Tiradentes: o amor cívico e a integridade de um patriota
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- Quarta, 19 Abril 2017 12:46
No dia 21 de abril de 1792, o alferes Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes, seu antigo ofício, foi enforcado e esquartejado no Rio de Janeiro. Em 1890, este dia foi considerado feriado por decreto real, e pela lei nº 4897, de 9/12/1965, foi proclamado Patrono Cívico da Nação Brasileira.
Foi um dos líderes e mentores da chamada Inconfidência Mineira, movimento percursor da independência que se opôs ao imposto que taxava toda a população chamado de "derrama", uma nova ordem tributária colonialista que veio de Portugal através do Visconde de Barbacena.
Queria-se organizar um levante contra a coroa para proclamar a autonomia de Portugal, declarando uma República com capital em São João del Rei, abolindo a escravidão. Como o movimento era frágil e sem muita base popular, foi reprimido ajudado pela delação de um de seus membros o traidor Joquim Silvério dos Reis, quem, para conseguir a amnistia de suas dívidas de empresário do comércio, entregou seus companheiros ao governador.
Foram presos, julgados e condenados; a rainha D. Maria I concedeu a todos, excluindo Tiradentes, a mudança da pena de morte por um exílio na África. Tiradentes era o mais pobre e de menor influência no grupo, e em nenhum momento procurou fazer acordos ou negociar a sua sentença mantendo-se na dignidade de sua posição revolucionária e patriótica, fiel e conseqüente a seus ideais.
Nestes dias, em que nos deparamos com listas intermináveis de cidadãos corruptos que pertenceram aos mais altos cargos de governo e de representação política, o exemplo luminoso e coerente de Tiradentes nos ensina que, quando se pratica a política sem virtudes, ideais e princípios, contrastando com este herói republicano, nos tornamos traidores como Silvério dos Reis que antepôs seu interesse pecuniário ao bem comum da Nação.
O amor cívico enunciado como linha de ação pelo Papa Francisco, na "Laudato Si", visa formar cidadãos que se importam com seu município e sua cidade, que sabem que o voto não basta, mas que o preço da liberdade supõe um exercício permanente de uma cidadania vigilante e testemunhal. A falta de uma cultura de integridade nos vários níveis e escalões da administração pública nos faz regredir ao tempo da colônia quando éramos vítimas dos ditames arbitrários e injustos da Monarquia.
A condição de integridade, muito embora deveria ser condizente e exigida como habilitação para a candidatura para um cargo político, impele aos eleitores dos próximos pleitos, a romper com qualquer partido ou candidato que proteja, indique ou disfarçe corruptos que sangram a Nação Brasileira. Deus seja louvado!
Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)
Por que a Páscoa não tem data fixa?
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- Quinta, 06 Abril 2017 08:40
Ao chegar a Páscoa, muitos se perguntam: em que dia cairá? Por que não há uma data fixa?
Sabemos que a Páscoa cristã se celebra sempre num domingo, mas a cada ano variam-se as semanas e, às vezes, o mês. Entre os católicos, costumeiramente se diz que não há Páscoa antes de São José (19 de março) nem depois de São Marcos (25 de abril).
As expressões “Páscoa baixa”, “Páscoa média” e “ Páscoa alta” estão relacionadas a esta movimentação da maior das efemérides cristãs que transita entre as últimas semanas de março e a última de abril.
Para se calcular a data da Páscoa, quando se celebra a jubilosa Ressurreição do Senhor, são importantes duas referências: a história do povo de Israel e a ciência da astronomia. Na verdade, as duas coisas andam juntas. Na Páscoa judaica (Pessah, na língua hebraica), recorda-se a passagem da noite em que povo hebreu ficou livre da escravidão do Egito, depois de uma série de inequívocas intervenções de Deus, primeiro com pragas enviadas ao Faraó opressor, e uma sequência de bênçãos prodigiosas, como a passagem do Anjo Exterminador, a travessia do Mar Vermelho, o Maná do Deserto, as codornizes, a água que brotou da rocha e outros sinais. Tal libertação se deu no primeiro plenilúnio após o equinócio da primavera do hemisfério norte, que acontece entre os dias 19 a 21 de março.
A morte de Cristo também se deu numa sexta-feira, antes da festa da Páscoa do povo hebreu, repousando na penumbra do sepulcro no Shabat (sábado) e ressuscitando na manhã clara do primeiro dia da semana, que os cristãos desde então chamam de Domingo, ou seja, Dies Domini (Dia do Senhor).
O equinócio é um fenômeno natural constatado pela astronomia, quando o sol, pela sua posição em relação à Terra e à Lua, emite seus raios de forma exatamente perpendicular à linha do equador, ocorrendo então a equiparação das horas do dia e da noite, tendo cada um pontualmente 12 horas. O termo ‘equinócio’ tem origem na língua latina: aequus (igual) e nox (noite). No ano há dois equinócios: o de março, entre os dias 19 e 21, que dá início a estação da primavera no hemisfério norte e outono, no hemisfério sul; e o de setembro, entre os dias 20 e 23, que estabelece o início das novas estações nos dois hemisférios, de forma inversa à anterior.
Pelos estudos cronológicos, a data fixa da morte de Cristo teria sido, mais ou menos, no dia correspondente ao 3 de abril do nosso calendário atual. A imprecisão se verifica, porque nossos calendários não conseguem ser matematicamente exatos, por haver certa discordância entre a forma de contar os dias e a realidade da incidência da luz proveniente dos astros. Vejamos que o ano não tem exatamente 365 dias, mas se compõe ainda de algumas horas, minutos e segundos (365d 5h 48m 46s). É necessário também levar em consideração o desenvolvimento da astronomia e da cronologia na história. Em vários momentos foi necessário haver medidas para acertar e corrigir distorções na organização do tempo. Por exemplo, nos tempos modernos, no ano de 1582, o Papa Gregório XIII, orientado por estudiosos da astronomia, determinou a eliminação de 10 dias no calendário, exatamente de 5 a 14 de outubro, pois havia desencontro entre a realidade solar e a contagem dos dias no ano. Isto veio também ajustar a data da Páscoa. Por causa desta louvável iniciativa do Papa mencionado, o calendário que se usa hoje se chama Calendário Gregoriano.
Vejamos, portanto, que não há Páscoa sem lua cheia e nem sem mudança de estação. Na Páscoa tudo se renova, tudo revive, tudo se ilumina da forma mais exuberante possível, pois, segundo a fé dos judeus e a dos cristãos, assim é que se revela a grande misericórdia de Deus que não quer a morte do pecador, nem a escravidão da criatura humana nas trevas do erro e da ilusão, mas quer que ele viva, e seja feliz.
A Páscoa preside todo o calendário litúrgico cristão, estando as festas móveis sujeitas à data da Páscoa, como, por exemplo, a 4ª feira de Cinzas, que dá início à quaresma quarenta dias antes da celebração pascal, além das festas posteriores à Páscoa, como Pentecostes, Corpus Christi e outras celebrações móveis.
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora
Páscoa de 2017
Outra vez Ideologia de Gênero
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- Terça, 28 Março 2017 13:52
Sei que há opiniões divergentes. A questão “gênero” é uma das polêmicas mais debatidas na atualidade. O que deverá prevalecer? As correntes do modismo, os interesses particularizados de minorias, ou o bom senso da razão? O que se está propondo (ou impondo) é uma revolução dos conceitos e dos costumes. As revoluções podem ser boas ou más, mudar para melhor ou para pior. Elas são geralmente resultado de uma ideia que, de alguma forma, pegou. Porém, também nem sempre o que pegou é bom. A ideias nazistas e fascistas pegaram, à época, mas não eram boas e geraram guerra mundial. As consequências vão demonstrar onde está a verdade. Mas, pela experiência da história, podemos evitar desastres desnecessários.
O critério para decisões nas horas acaloradas não pode ser outro senão o respeito à ordem natural das coisas, à dignidade das pessoas e à legitimidade do método. No caso da agenda de gênero, parece-me haver vários enganos que poderão causar danos irreparáveis. Em primeiro lugar, afirmar que ninguém nasce homem ou mulher e que ser uma coisa ou outra reduz-se a papéis atribuídos pela sociedade, é evidente e clamoroso equívoco, uma vez que desconsidera, como se não tivesse nenhuma relevância, o dado biológico, que é constitutivo do ser humano e o faz concretizar a essência humana como homem ou como mulher.
Há muitas coisas que são resultado da construção social, o que equivale a dizer que há muitas injustiças sociais que devem ser superadas pela reconstrução de papéis sociais atribuídos pela sociedade. Mas isso, de modo algum, autoriza-nos a desconsiderar o dado natural e sua relevância moral. Por natureza, os seres vivos são criados machos e fêmeas, e isso não é apenas um acaso, mas a ordem natural que possibilita a procriação e a harmonia entre os seres vivos. A natureza já nos dá certas determinações, e isto não pode ser simplesmente desprezado ou encarado como uma agressão da mesma. Há coisas que devem ser recebidas como um dom e não como imposição. Seria uma deformação psicológica ver em tudo opressão. Você, se nasceu no Brasil, nasceu brasileiro, se nasceu no Japão, será sempre japonês. Ainda que você, por opção, se naturalize em outro país, a sua origem nunca poderá ser negada. Há, portanto um dado original que lhe determina a existência.
No campo da sexualidade, se ao caminhar da vida algo de diferente apareceu na dimensão psicológica ou em opções pessoais, trata-se de caso especial e deve ser visto, respeitosamente, como tal. As pessoas não têm culpa de terem esta ou aquela tendência. Mas é preciso tratar as coisas com objetividade. Se você, por exemplo, se sente japonês num corpo brasileiro, todos o respeitarão, mas seria um contrassenso exigir que a todos nasçam sem nacionalidade ou naturalidade definida, e tentar criar legislação que proibisse todas as pessoas de se reconhecerem como tais, dando-lhes o pseudodireito, antinatural, de esperar ter a idade da razão para saber se quer ser brasileiro, japonês, ou ter qualquer outra naturalidade.
Se, em linha de princípio, se deve o respeito às opções, é necessário observar que a liberdade de optar tem limites e consequências. Mesmo as opções por algo que julgo bom devem ser averiguadas. É preciso saber se vão causar danos a alguém, ao grupo humano de que fazemos parte e até à humanidade inteira. Por exemplo, a opção pelo desmatamento pode ser julgada por alguém como algo bom, pois poderá gerar lucros e para estes autores da desflorestização o lucro é tentador. Mas, sabemos que tal ato causa um grande prejuízo ao meio ambiente e gera situações de morte para pessoas humanas e outros seres vivos.
Os métodos para fazer prevalecer ideias devem ser legítimos e respeitosos. Não me parece que isto esteja acontecendo com relação à ideologia de gênero. A instrumentalização da mídia com casuísmos dramáticos, com exemplos particularizados, a forma de impor tal agenda nos planos de municipais de educação, de juventude, da mulher e outros, além do uso de material didático, verdadeira literatura pornográfica já distribuída nos últimos anos sem nenhum consenso da sociedade, não tem nada de democrático.
O direito das famílias de educar seus filhos conforme suas consciências e suas crenças é totalmente desprezado, não lhe reconhecendo nenhum direito de falar, de argumentar ou de optar por algo que lhe seja valor inalienável. Em geral, quando as vozes que defendem a família se levantam, são pejorativamente criticadas com termos como conservadorismo, homofobia, atitude contra os direitos das mulheres e outros.
Aos cristãos, sejam católicos ou evangélicos, constituidores da grande maioria do povo brasileiro, eu ofereceria a Palavra do Senhor que nos chamam a lutar com destemor: “No mundo tereis provações. Mas tende coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16, 33). Já enfrentamos coisas piores na história, mas sempre venceu o bom senso e a ordem estabelecida por Deus. No espírito da Quaresma que prepara a Páscoa, lutemos com as aramas da paz e da justiça, do respeito, da coragem e do amor, certos de que a vitória será da vida, pois Cristo venceu o pecado e a morte, ressuscitou e está vivo para sempre.
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora
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