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Deus sacia a nossa fome

pao da vida-820Se Deus é o Ser que faz ser todos os entes, ele está sempre criando, constituindo e sustentando tudo o que existe. Deus está se doando sempre porque está constantemente comunicando o ser às criaturas. Só o Ser pode comunicar o ser que os entes recebem. Se essa comunicação cessasse, o universo criado se reduziria ao nada.

Traz grande luz e alegria espiritual a compreensão – que não esgota o Mistério – de que somos a partir do Ser. Compreender isso é redescobrir que a raiz mais profunda da nossa existência é a gratuidade ou o dom; é redescobrir que estamos ligados à Luz e à Bem-aventurança do Ser que nos doa ser. A religião (de re-ligare) é a retomada consciente e amorosa desta ligação que nunca deixou de existir.

O Ser doa ser a cada ente de acordo com a capacidade de receber de cada um. O que define essa capacidade de receber é a essência. A essência/ideia de árvore só recebe o ser de árvore. Uma vez recebido o ser delimitado por sua essência, a árvore poderá ter suas operações como árvore, como nutrir-se, crescer, produzir frutos; mas não poderá ter as operações próprias de outra essência ou outro ente. Já o homem, por ser espírito, tem a essência muito menos limitada do que a essência de árvore ou de qualquer outra essência não espiritual. Aliás, a dimensão espiritual que nos constitui é abertura infinita. O ser que recebemos de acordo com nossa essência espiritual, com as suas operações espirituais de inteligência e vontade, é capaz de voltar-se para o próprio Ser criador e deixar-se tocar por ele. O homem é capaz de receber e amar o próprio Ser que doa o ser que o homem recebe!

O que poderíamos querer de mais precioso? Poder conhecer a Luz originária e mergulhar na Bem-aventurança sem limites é o Pão que Deus se dispõe a nos dar. Ele sacia a nossa fome, como diz o salmista: “Abre a boca e eu a encherei (Sl 81/80,11). Saciados, tornamo-nos instrumentos nas mãos do grande Alimento para ajudar a saciar a fome que ainda existe no mundo – fome de pão e fome do Pão.


Padre Elílio Júnior
Vigário Paroquial da Catedral

O Ser é Luz e Amor

shutterstock 145918109-752x440O ser humano traz uma luz dentro de si, que lhe permite conhecer, discernir e orientar-se. É o reflexo da Luz incriada no seu interior. Ela brilha e aquece, e quer dissipar as trevas da mente e a frieza do coração. O principal obstáculo a ser vencido pela Luz é o egoísmo. Por ele, nós nos fechamos em nosso pequeno mundo, fantasioso e inconsistente; deixamos de olhar para a Fonte, que é Deus. Fechamo-nos em nossas trevas e em nossa frieza. Sofremos porque nos afastamos da Luz e ocultamos a sua luz em nós.

Deus é o Ser originário e incriado. É o Infinito do qual sentimos saudades. Ele nos criou para que o busquemos livremente, cada vez mais, com a ajuda indispensável da sua graça e do seu amparo, a fim de participarmos de sua vida luminosa e amorosa – vida feliz! Todo o universo criado é resposta pequena demais para o espaço infinito que constitui o nosso espírito. Desejamos, consciente ou inconscientemente, a Realidade verdadeira. Só Deus e nossa transformação em Deus podem saciar-nos.

O Ser originário, que é Deus, afirma-se três vezes, sem divisão nem cisão. Evidentemente, ele se afirma como Ser originário. Mas ele não é um ser originário opaco; por isso, afirma-se como Ser que se conhece (e em si conhece todos os entes criados). Ele não é nem mesmo um ser indiferente; por isso afirma-se como Ser que se ama (e em si ama todos os entes criados). Eis a Trindade em Deus: a expressão eterna do conhecer de Deus é o Verbo ou Filho; a expressão eterna do amar de Deus é o Espírito Santo; a origem eterna das duas expressões é o Pai! Deus é (cf. Ex 3,14) luz (cf. 1Jo 1,5) e amor (cf. 1Jo 4,16)! Podemos dizer que o é está para o Pai, a luz para o Verbo e o amor para o Espírito Santo.

O ser humano se diminui quando se fecha ao Ser originário, Uno e Trino. Esse fechamento é a queda, com todas as suas consequências de dor e sofrimento. Ao contrário, o ser humano engradece-se quando se abre ao Ser originário, Uno e Trino. Essa abertura permite que o Ser originário o preencha com sua Imensidade, acenda em nele a sua Luz e derrame sobre ele o seu Amor. Assim, Deus nos levanta, transforma e dá-nos a sua Vida feliz, já agora!


Pe. Elílio de Faria Matos Júnior
Vigário paroquial da Catedral

Marcas do Papa Bento XVI em nossa história

Dom-Gil-e-Bento-XVI-siteCondoídos pelo passamento do nosso Papa Bento XVI, ao mesmo tempo, muito gratos a Deus pelo riquíssimo legado que ele deixa para os cristãos e para toda a humanidade, estamos todos muito unidos ao coração do amado Papa Francisco e de toda a Igreja, nesta hora significativa da história.

De forma sucinta e breve, podemos contemplar sua vida em três momentos, observando em cada um deles as bênçãos que Deus nos proporciona.

1º) O Teólogo;

2º) O Colaborador da Verdade como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé;

3º) O papado.

Durante 25 anos, antes de ser eleito bispo, Ratzinger foi eminente professor de Teologia em sua Alemanha. Estudioso profundo da fé, iniciou suas publicações que hoje correspondem a uma grande coleção de livros e artigos teológicos que podem ser classificados como as edições acadêmicas mais sólidas dos últimos tempos.

Dotado de uma inteligência privilegiada, e sobretudo de uma fé inabalável, vigorosa e exemplar, seus escritos acadêmicos, somados aos textos do seu Magistério Papal, correspondem alicerce para os ensinamentos da Igreja nos tempos atuais e futuros. Sua atuação como perito no Concílio Ecumênico Vaticano II foi básica para as renovações e atualizações da Igreja na época moderna.

Com sua competência, e ao mesmo tempo com sua humildade, serviu à Igreja de forma segura e serena como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé por 23 anos, durante o pontificado de São João Paulo II. Nesta ocasião, pôde auxiliar teólogos e reorientar aqueles que corriam perigo de equívocos ou excessos. Se alguma vez teve que aplicar penas medicinais previstas no Direito Canônico, o fez com suavidade, sendo motivo de críticas daqueles que o achavam brando demais. Seguro na doutrina, fidelíssimo na fé, deixa para a Igreja um enorme serviço neste importante ambiente.

Como Papa, foi Pastor admirável e missionário incansável. Falava, ao mesmo tempo, com profundidade teológica e simplicidade paterna. Enfrentou problemas difíceis e desafiadores do mundo moderno, sejam no âmbito da moral, sejam no campo teológico, mas nunca deixou de tomar medidas exatas para as soluções necessárias, sem se preocupar com sua própria imagem, mas apenas com a santidade eclesial. Sua única vontade era, de fato, ser fiel a Deus e aos ensinamentos da Igreja.

Seu gesto de humildade e coragem de renunciar no oitavo ano do pontificado fica na história como exemplo de quem entende a autoridade como um serviço que deve ser prestado até o momento exato de seus limites pessoais. Sua emeritude papal, longe de ser inerte, se tornou uma eloquente pregação pela mística de uma vida orante, na qual são evidentes o extraordinário amor eucarístico e a filial devoção a Maria, Mãe do Senhor e Mãe da Igreja.

Ficam também como exemplo modelar seu relacionamento fraterno e imensamente respeitoso com seu sucessor, o Papa Francisco, com quem mantinha autêntica amizade. Muitos outros aspectos poderiam ser lembrados. Outros o farão.

Quanto aos aspectos pessoais, tive a imerecida graça de ter sido nomeado arcebispo por ele e de ter recebido o palio de suas próprias mãos, na Basílica de São Pedro, em Roma. Pude estar pessoalmente com ele algumas vezes, destacando a audiência pessoal na Visita ad Limina de 2010 e os encontros informais ou litúrgicos na sua visita ao Brasil no ano de 2007, quando aqui esteve para a Conferência de Aparecida. Algumas vezes estive com ele nas audiências públicas em Roma, ocasiões privilegiadas para colóquios oportunos, ainda que rápidos.

Na Arquidiocese de Juiz de Fora, no tempo de seu pontificado, prestamo-lhe, ao menos, duas homenagens públicas, que foram a criação do Seminário Menor Bento XVI e a fundação do Coral Benedictus, cujo nome, em latim, foi dado por causa do Papa Emérito, também pianista.

Diante de sua vida rica de serviços à Igreja e à humanidade, diante de sua morte serena e santa, me curvo para agradecer por esse dom que nos ofereceu como base sólida para a fé e a prática do amor de Cristo.


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

 

* Foto: registro da entrega do Pálio pelo então Papa Bento XVI a Dom Gil Antônio Moreira, em 29 de junho de 2009

 

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