chamada blog

Em comunhão com o Papa Francisco no Iraque

DSC 0025Terminou a histórica visita do Sucessor de Pedro ao Iraque. Foi a primeira vez que um Papa visitou aquela terra tão querida e importante para as três religiões monoteístas: o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo. É a terra de Abraão, nosso pai na fé. É a antiga Mesopotâmia, onde se passaram os fatos mais antigos narrados pela Bíblia. São João Paulo II, em 1999, desejou ir, tudo estava preparado, porém teve que renunciar à viagem, por causa de situações políticas da época.

Papa Francisco, superando vários desafios e perigos, lá ficou por quatro dias. Esse foi um gesto de grande importância para o mundo, pois foi como peregrino da paz e da penitência, como ele mesmo afirmou, para tentar vencer as guerras, os conflitos entre raças e etnias, as violências, inclusive por fanatismos religiosos. Seus encontros com a pequena comunidade de cristãos, entre os quais estão os católicos, com certeza deram força para nossos irmãos que ali vivem em situação tão difícil.

O Papa, contudo, não foi ao Iraque apenas para encontrar os cristãos, mas a todos de outros credos, pronto ao diálogo inter-religioso, em busca da paz mundial e do respeito pela dignidade da pessoa humana, pronto a unir-se com aqueles, que mesmo professando religiões diferentes, têm muito em comum a respeito dos valores básicos da convivência humana. Sem dúvidas ele foi bem acolhido e a Igreja, respeitada. No itinerário quaresmal, rumo à Pascoa, esta viagem apostólica foi para nós forte experiência de amor ao próximo, de real fraternidade e de aprimoramento da nossa fé e de nosso amor a Deus. A viagem do Papa à terra de Abraão, de Isaac e Jacó, foi revestida de Oração, Penitência e Caridade fraterna.

Por isso, convidei o Exmo. Sheik Hosni Youssef, residente em Juiz de Fora, líder da pequena comunidade mulçumana que aqui vive, para rezar conosco nesse Terceiro Domingo da Quaresma, em união com o Papa Francisco e os líderes religiosos do Islã, presentes na terra de Abraão, o Iraque. Na Catedral Metropolitana, rezamos nas mesmas intenções que o Papa Francisco tem no coração, que é justamente a paz mundial, o diálogo fraterno entre todos aqueles que amam a Deus.

Logo que aqui chegou, em fevereiro de 2019, Sheik Hosni me fez uma visita, com o mesmo espírito do Papa Francisco, de diálogo, de busca da fraternidade. Cremos no mesmo Deus, único e verdadeiro; as diferenças que há no comportamento litúrgico ou doutrinal são menores do que aquelas coisas que nos unem, que é o amor a Deus, o amor ao próximo, a busca da fraternidade, da paz, da justiça, do amor.


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

Diálogo

dialogo-com-deus

O diálogo é uma conversa entre pessoas: uma fala, a outra ouve e vice-versa cada uma de cada vez. Você, prezado leitor (a), tem inúmeras oportunidades para usar esse intercâmbio de ideias, de assuntos. Pois é. Creio que você dialoga com alguém, dando boas ou más notícias, falando de assuntos diversos. Há, no entanto, um tipo de diálogo muito atraente e necessário. É, sem dúvida, aquele que você estabelece com o Pai em Jesus Cristo. Se não sabe, vou lhe mostrar: é a oração! Por ela você entra na intimidade de Deus para pedir aquilo de que precisa falar e ouvir. Dele o que preciso aprender. Ou melhor: dar graças por tudo o que Ele nos dá. Que recurso maravilhoso, que intercâmbio muito necessário. Oração é entrar em sintonia com nosso Pai, sobretudo no agradecimento pelo que você é, pela sua vida, sua família. Ao ler qualquer trecho da Bíblia, você entra em sintonia com Jesus, dialogando com Ele o que leu. Excelente modelo de diálogo porque lê e conversa com Ele sobre o que leu.

Leia sempre a Palavra para motivar sua oração.


Padre Antônio Pereira Gaio
Vigário Paroquial da Catedral

Precisamos falar dela

O ano que terminou não será esquecido, foi o “ano da Covid-19”. Nele nos despedimos de muitas vidas, ceifadas pela pandemia. Dizia um filósofo que qualquer adeus tem sabor de morte (A. Schopenhauer). Nossa existência neste tempo, mais que nunca, está marcada pelas despedidas e pela morte.

Morte é assunto “tabu” em nossa cultura, desfaz qualquer roda de conversa. Precisamos, porém, falar do morrer e do luto, este último, durante a pandemia, não está sendo possível realizar como se deveria, mas que, assim como a própria morte, faz parte da vida. Como indicava o escritor G. Lapouge, “desde a infância da humanidade, os funerais são um dos sinais que separam os animais dos homens”.

Nossa sociedade censura a morte silenciando sobre ela. Para o homem moderno com a tecnologia avançada, inteligência artificial, a morte deve ser a grande ausente. É permitido somente ao homem pré-moderno falar da morte como um evento pessoal. Contudo, os meios de comunicação de massa somente falam da morte como espetáculo, algo que atinge os outros, os estranhos e não a mim.

A morte é censurada por estragar o projeto hedonista de prazer ilimitado e a necessidade de felicidade absoluta. O silêncio sobre a morte se faz porque ela, agora, está dessacralizada, não acontece na presença das outras pessoas. Não tem papel social, é algo pessoal que deve se passar na esfera privada. Enfim, a negação da morte é fruto da euforia da técnica na sociedade atual, técnica que resolve todos os problemas… menos este.

A tentativa, porém, de negar e esconder a morte não obtém sucesso. A pandemia trouxe à tona sua dura realidade. Para qualquer pessoa individualmente, ela continua sendo ameaça, mesmo quando inconfessável. A crise sanitária atual nos coloca diante da morte. Vamos compreendendo nossa finitude, coletiva e pessoal. É dramático, desagradável, mas necessário falar da morte e do morrer, do humano sofrer e do sepultamento dos mortos, com a dignidade que merecem.

Os ritos profanos e religiosos do corpo presente, que duravam em média 24 horas e que se inserem no dever de honrar os mortos e sepultá-los, já não estão podendo ser celebrados. Nos velórios ocorrem momentos decisivos para os familiares processarem o luto. Enterrar os mortos com dignidade é agradecer a vida que tiveram entre nós. É um dever e uma honra.

A falta de celebrar o luto é prejudicial às pessoas. Ver o corpo do falecido é de fundamental importância para o trabalho psicológico do luto. Assim, se incorpora a imagem do morto à memória dele vivo, integrando nos que ficam, a completude daquela vida. A lembrança do defunto quando vivo sem a lembrança dele morto, faz tudo parecer absurdo, irreal. Fica um vazio, como de algo inacabado. A energia afetiva de cada um se revolta contra esta realidade absurda. Para a realização do trabalho interior do luto é fundamental que o inconsciente e o consciente possam contar com a imagem do morto.

Para muitos o velório e as exéquias não servem para nada. É tempo perdido de jogar conversa fora e atrasar o enterro. Atrapalha o ritmo normal das coisas. Se o tempo perdido, excepcionalmente por alguns, na celebração das exéquias já parece absurdo, o que diriam do tempo consagrado a este serviço pelos sacerdotes e ministros das exéquias? Neste tempo de pandemia os padres e ministros da Igreja Católica tem prestado um grande conforto às famílias, muitos se arriscando para orar e “encomendar” os mortos, um derradeiro conforto dado pela fé, diante da perda irreparável.

Se numa sociedade do “descartável”, como a chama o papa Francisco, os idosos e doentes devem ser descartáveis, que se dirá dos mortos? Do modo como caminhamos, Deus nos livre, mas se chegará à cremação para os corpos dos ricos e o aterro sanitário para os pobres. É preciso respeitar os mortos! Os cemitérios às vezes mal cuidados, assaltados, parecem rodoviárias com bares, lanchonetes, circulação intensa e salas inadequadas com acústica imprópria para celebrações.

Na fé cristã sabe-se que a vida não é tirada, mas transformada, pois, não morremos, entramos na vida definitiva. Somente saberemos viver bem se soubermos encarar a morte de frente, como Jesus Cristo o fez. Morrendo na cruz ele destruiu a morte e deu-nos a vida que dura para sempre. Ele mesmo disse: “Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica só. Mas se morrer, produz muito fruto” (Jo 12, 24).


Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo de Santo André (SP)

Arquivos

Tags

  1. Facebook
  2. Twitter
  3. Instagram
  4. Video