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Construir pontes ou muros?

Na busca de solução de nossos problemas, somos tentados a procurar alternativas, nem sempre ideais. Muitas vezes, é difícil decidir. Os muros continuam sendo usados, tendo na história uma série de exemplares. Por motivos diversos, existem muralhas na China, o Muro das Lamentações em Jerusalém, o Muro de Berlim que ajudei a derrubar em 1990, quando habitava na Europa. Tenho comigo algumas pequenas partes do referido muro, que utilizei para fazer um crucifixo coroado com um diadema do arame farpado, pedaço que pude obter daquele enorme rolo que corria sobre a muralha para dificultar ainda mais a comunicação entre os regimes comunista, ao leste, e democracia capitalista a oeste. A razão do crucifixo foi perpetuar a memória da desilusão da história socialista ateia, ao lado de uma democracia capitalista selvagem, que constituem ameaças à liberdade e à dignidade humanas. Cristo continua padecendo a morte em pleno século XX e XXI, sofrendo na carne as opções dos homens que teimam em buscar soluções, muitas vezes equivocadas. Graças a Deus, aquele muro foi posto abaixo depois de derrotas de sistemas totalitários em várias partes do mundo.

Na verdade, as filosofias sociológicas do século XIX, com certas afirmações empolgantes, não conseguiram provar sua eficácia na prática. Contudo, a questão não está fechada. A busca de solução é um apelo constante na história humana. Os regimes políticos andam em crise por todos os lados. Lamentavelmente se apela para outros muros hoje em dia.

O Papa Francisco tem falado em pontes como instrumentos muito mais eficientes que os muros. Há poucos dias, disse: “Todos os muros caem, todos. Não nos devemos enganar. Continuemos a trabalhar para construir pontes entre os povos. Pontes que nos permitam derrubar os muros da exclusão e da exploração. Enfrentemos o terror com amor”.

Num mundo onde o fenômeno terrível de migrações em massa tem assustado a humanidade inteira, e onde a violência e o terror ameaçam a paz, é preciso uma resposta corajosa, mas que diminua as tensões e não que acirre os ânimos. Francisco lamenta-se pelo crescimento da xenofobia e da intolerância e as classifica como resultado do medo. Em sua sabedoria natural, e sua espiritualidade luminosa, ensina: “A misericórdia não é fácil. Ela requer coragem”.

Para alento de todos, recorda que Jesus nos disse: “Não tenham medo”. “A misericórdia, afirma o Papa, é muito mais eficaz que os antidepressivos, ansiolíticos, os muros, as redes, os alarmes e as armas. E é grátis. É um dom de Deus!”.

Estas palavras do Sucessor de Pedro são necessárias ao mundo de hoje. Todos as podem escutar e acolhê-las, independente de religião, de raça e de posições políticas. Elas são carregadas de sabedoria que vem do alto e podem nos conduzir a novos caminhos que nos levarão à paz.

Que vença a força da misericórdia, pois ela é o rosto de Cristo na tela da humanidade atual.

Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

 

Prender criminosos basta?

“Lembrem-se dos presos como se vocês estivessem na prisão com eles”. (Hb 13,3).

dom gil curiaDiante da dolorosa crise que se instala sobre o Sistema Carcerário Nacional, manifesto meu pesar e também reafirmo o compromisso no atendimento dos encarcerados e seus familiares de Juiz de Fora, através de nossa eficiente Pastoral Carcerária Arquidiocesana.

Cabe ao Estado o dever de propiciar o mínimo de dignidade a uma população que carece dos direitos sociais mais básicos a fim de devolver os detentos à liberdade, livres da criminalidade. Dados recentes do Ministério da Justiça mostram que a população carcerária cresceu 575% nos últimos 26 anos. O paradoxo desta política de encarceramento em massa é que os esforços governamentais, que se empenham na construção de mais presídios, sem as condições necessárias de humanização, não têm diminuído, mas aumentado a criminalidade.

O Brasil ostenta hoje o patamar de quarta maior população carcerária do mundo, atrás de EUA, China e Rússia. No entanto, entre eles é o campeão de prisões de acusados sem condenação. Na questão de superlotação, somos também um dos vencedores: temos metade das vagas para atender o número de encarcerados. Vê-se que o Sistema Prisional carece não só de novas construções, mas de uma profunda reforma estrutural.

Nas Unidades Prisionais de todo nosso País predominam a superlotação, a violação de direitos e os recorrentes casos de maus-tratos e torturas. O encarceramento em grande número nos Sistemas Prisionais não gerou melhora na Segurança Pública em nossas cidades. Pelo contrário, os índices de violências, nos últimos anos, aumentaram de maneira gigantesca, vitimando, sobretudo as pessoas pobres, negras, das periferias e de baixo nível educacional.

Fica evidente que encarcerar pura e simplesmente não é solução para pôr fim a tanta violência, pois infelizmente o Estado não tem criado estruturas que contribuam para reconstrução da vida da pessoa encarcerada e sua ressocialização. Como disse o Papa Francisco em sua visita ao México, “é um engano social acreditar que a segurança e a ordem só são alcançadas prendendo as pessoas”. Na verdade, as prisões, nos esquemas atuais, resultam quase sempre somente em dor e destruição da pessoa humana.

Enfim, é urgente construir novas estruturas que propiciem a real ressocialização para, em um futuro próximo, vivermos o tão sonhado “mundo sem prisões”, encontrando alternativas para punir os que erram e combatendo eficazmente a criminalidade e a corrupção, sem perder o foco da eliminação das causas e não só dos efeitos.

Queremos também dizer um “não” explícito a toda forma de violência praticada por facções criminosas que agem com requintes de crueldade e desrespeito à dignidade do ser humano, não colaborando com a solução do problema, mas antes o agravando. Que o Estado consiga meios para a eliminação do crime organizado e o diabólico tráfico de drogas.

O Brasil de tantas crises construídas nos últimos anos encontre em todos, governo e população, formas de reconstruir a Nação e alcance a paz!

Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

Nota da Pastoral Carcerária da Arquidiocese de Juiz de Fora sobre crise no Sistema Carcerário Nacional

capaface“Lembrem-se dos presos como se vocês estivessem na prisão com eles”. (Hb 13,3).

Diante da dolorosa crise que se instala sobre o Sistema Carcerário Nacional, a Pastoral Carcerária de Juiz de Fora manifesta seu profundo pesar e também reafirma o compromisso no atendimento dos encarcerados e seus familiares desta cidade e região.

Cabe ao Estado o dever de propiciar o mínimo de dignidade a uma população que carece dos direitos sociais mais básicos, a fim de devolver os detentos à liberdade livres da criminalidade. Dados recentes do Ministério da Justiça mostram que a população carcerária cresceu 575% nos últimos 26 anos. O paradoxo desta política de encarceramento em massa é que os esforços governamentais, que se empenham na construção de mais presídios, sem as condições necessárias de humanização, não têm diminuído, mas aumentado a criminalidade.

O Brasil ostenta hoje o patamar de quarta maior população carcerária do mundo, atrás de EUA, China e Rússia. No entanto, entre eles é o campeão de prisões de acusados sem condenação. Na questão de superlotação, somos também um dos vencedores: temos metade das vagas para atender o número de encarcerados. Vê-se que o Sistema Prisional carece não só de novas construções, mas de uma profunda reforma estrutural.

Nas Unidades Prisionais de todo nosso País predominam a superlotação, a violação de direitos e os recorrentes casos de maus-tratos e torturas. O encarceramento em grande número nos Sistemas Prisionais não gerou melhora na Segurança Pública em nossas cidades. Pelo contrário, os índices de violências, nos últimos anos, aumentaram de maneira gigantesca, vitimando, sobretudo as pessoas pobres, negras, das periferias e de baixo nível educacional.

Fica evidente que encarcerar pura e simplesmente não é solução para pôr fim a tanta violência, pois infelizmente o Estado não tem criado estruturas que contribuam para reconstrução da vida da pessoa encarcerada e sua ressocialização. Como disse o Papa Francisco em sua visita ao México, “é um engano social acreditar que a segurança e a ordem só são alcançadas prendendo as pessoas”. Na verdade, as prisões, nos esquemas atuais, resultam quase sempre somente em dor e destruição da pessoa humana.

Enfim, é urgente construir novas estruturas que propiciem a real ressocialização para, em um futuro próximo, vivermos o tão sonhado “mundo sem prisões”, encontrando alternativas para punir os que erram e combatendo eficazmente a criminalidade e a corrupção, sem perder o foco da eliminação das causas e não só dos efeitos.

Queremos também dizer um “não” explícito a toda forma de violência praticada por facções criminosas que agem com requintes de crueldade e desrespeito à dignidade do ser humano, não colaborando com a solução do problema, mas antes o agravando. Que o Estado consiga meios para a eliminação do crime organizado e o diabólico tráfico de drogas.

O Brasil de tantas crises construídas nos últimos anos encontre em todos, governo e população, formas de reconstruir a Nação e alcance a paz!


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

Padre Welington Nascimento de Souza
Assessor Eclesiástico da Pastoral Carcerária da Arquidiocese de Juiz de Fora

 

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