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Centenário diocesano à luz da Palavra de Deus

Centenario-Diocesano-AmareAo meditar sobre as leituras escolhidas para a Missa em ação de graças pelo Centenário de nossa querida Diocese de Juiz de Fora, hoje Arquidiocese, Missa essa celebrada no domingo, 4 de fevereiro, sendo as duas primeiras do 5º Domingo do Tempo Comum e o evangelho próprio, pudemos escutar Deus a nos iluminar com sua Palavra nessa data festiva.

Na primeira leitura, do livro de Jó, aprendemos que a vida é efêmera e passageira, muitas vezes carregada de sofrimento e provações. “Meus dias correm mais rápido que a lançadeira do tear” (Jó 7, 6). Cem anos, embora pareçam um tempo largo, passam velozes, e muitos idosos hoje podem nos contar muito do correr desta história. O texto bíblico nos ajuda a perceber ainda que, nas festas, não devemos apenas recordar os momentos alegres e fáceis, mas também os sofrimentos vividos por nossos irmãos do passado, sejam eles leigos, leigas, sacerdotes, religiosos ou religiosas, e o povo em geral. Diz a Palavra no livro de Jó: ”Não é acaso uma luta a vida do homem sobre a terra?” (Jó, 1).

Por isso, levamos para nosso altar festivo, em primeiro lugar, a memória de todos os sofredores, todos os empobrecidos das 37 cidades que compõem o território diocesano. Quantos foram também os sofrimentos ocultos nesta estrada centenária?! À inspiração da pessoa de Jó, tudo colocamos no altar, suplicando perdão pelas falhas acontecidas nesta Igreja durante estes cem anos, mas também agradecendo tudo aquilo que nossos irmãos do passado puderam fazer por todos os necessitados de qualquer ordem.

É justo recordar os confrades e consócias vicentinos, a Associação do Pão de Santo Antônio, a Associação Social Arquidiocesana (ASA), o numeroso atendimento a indigentes da Santa Casa de Misericórdia, o Instituto Padre João Emílio, as obras sociais e caritativas das congregações religiosas e paroquiais, entre outras iniciativas em Juiz de Fora e nas cidades do interior da Arquidiocese.

A segunda leitura, da 1ª Carta de São Paulo aos Coríntios, traz-nos a alegria de contemplar tantos irmãos do passado que deram, graciosamente, suas vidas, seus dons, seus esforços para que o evangelho de Jesus fosse anunciado, pregado e vivido. Quantos padres, quantas religiosas, quantos leigos e leigas nestas dez décadas se desdobraram, sem nenhum interesse material, para que Cristo fosse mais conhecido e mais amado entre os habitantes destas 37 cidades! Também eles podem dizer como São Paulo: ”Para mim pregar o evangelho não é motivo de glória; é antes uma necessidade… Ai de mim se eu não evangelizar!” (I Cor 9, 16).

Sendo a Igreja uma organização que não visa lucros materiais, mas apenas vantagens humanitárias e espirituais, em busca da salvação eterna, a gratuidade é a marca inconfundível daqueles que a ela servem, 24 horas por dia, com toda a dedicação de seu coração, sem se preocupar com recursos pecuniários a não ser para seu mínimo sustento, a fim de que possam melhor trabalhar para Cristo. Também com Paulo podem ser recordados aqueles que viveram tal gratuidade, repetindo: “Em que consiste então o meu salário? Em pregar o evangelho, oferecendo-o de graça, sem usar dos direitos que o Evangelho me dá” (I Cor 9, 18). Os verdadeiros discípulos de Cristo, no passado, no presente ou no futuro terão sempre a alegria de dizer: “Por causa do evangelho eu faço tudo” (I Cor 9, 23).

Para celebrar os cem anos de nossa Igreja Diocesana, escolhemos um trecho do evangelho de São João, que traz não propriamente uma pregação, um discurso de Jesus, mas uma oração, pois queríamos, naquela hora, elevar os olhos e o coração para o alto, como fez o Divino Mestre, para louvar, agradecer, celebrar e pedir. Em união com o clero, e por sugestão da Comissão Celebrativa do Centenário, vimos que a melhor forma de celebrar esta expressiva data seria transformar todo este ano de 2024 em Ano Eucarístico Arquidiocesano, pois a Eucaristia é a grande ação de graças celebrada por Jesus. A Eucaristia é prece que nos eleva, é pão que nos alimenta, é vinho que nos tira a sede e nos fortalece no caminhar rumo ao céu. Imbuídos do espírito de unidade desejado por Cristo, viveremos este ano ao redor do Sacramento Eucarístico, unidos à Igreja inteira convocada pelo amado Papa Francisco, para celebrar o Ano da Oração, em preparação para o Jubileu de 2025.

Na verdade, o capítulo 17 de João é constituído da mais longa oração pronunciada por Cristo registrada na Sagrada Escritura. Trata-se de uma fervorosa prece que o Senhor faz na preparação imediata para sua paixão e morte, depois de se reunir com os apóstolos para a última ceia, quando lavou os pés aos discípulos, instituiu o santo Sacramento da Eucaristia e deu-lhes o mandamento do amor. É uma prece carregada de emoção, de caráter familiar, eminentemente eclesial, pois reza pelos discípulos de seu tempo e de todos mais que crerão nele no passar da história, quando disse: “Eu não rogo somente por eles, mas também por todos aqueles que vão crer em mim pela palavra deles” (Jo 17,20). Jesus reza pela Igreja nascente e pela futura, de todos os tempos. Por isso, nos vemos presentes nesta prece ao celebrar a nossa festa centenária.

Portanto, celebrar festas não é apenas olhar para trás. A festa nos alimenta, nos encoraja para prosseguir e progredir no caminho em direção ao Banquete da eternidade, na construção de um mundo cada vez mais humano, mais fraterno, mais pacífico, mais parecido com os planos de Deus. Animados pela Palavra de Jesus, tenhamos sempre o espírito sinodal que marca a Igreja desde seu início, e que agora volta com mais evidência, que não é outra coisa senão caminhar juntos, alegres e bem-dispostos rumo à casa do Pai, como cantamos em nosso hino Arquidiocesano que inauguramos: “Não haja entre nós divisões, formamos o Corpo de Cristo Jesus. A Igreja é fiel sacramento da comunidade que há na Trindade…”

Iniciemos, sob a luz e a força de Deus, a caminhada para o segundo centenário de nossa Igreja juiz-forana, ouvindo, dia a dia, a oração sacerdotal de Jesus: “Que todos sejam um, ó Pai, como eu e tu somos um… para que o mundo creia” (Jo 17,21).


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

POR UMA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL SERVIDORA DA PAZ E DA PESSOA HUMANA

cq5dam.web.1280.1280No tema do 57ª Dia Mundial da Paz, Inteligência Artificial e Paz, o Papa Francisco nos propõe um diálogo aberto e um verdadeiro discernimento sobre o impacto da Inteligência Artificial na civilização atual. A mensagem de 2024 desdobra a temática em oito assuntos tratados em pontos de reflexão.

No item 1º; 0 progresso da ciência e da tecnologia como caminho da paz, retoma a Constituição Gaudium et Spes, apresentando a ciência e tecnologia como sinais de esperança para um desenvolvimento humano e a paz. Já no 2*; O futuro da Inteligência Artificial por entre promessas e riscos, mostra tanto as possibilidades e potencialidades das novas tecnologias bem como as contradições e que trazem apreensões quanto a desigualdade social e sua aplicação desvirtuada.

No 3º ; A tecnologia do futuro máquinas que aprendem sozinhas, comentando dois modelos de máquinas, as machine learning de aprendizagem automático e as deep learning de aprendizagem profunda, que refletem bem a fantasia e idealização excessiva e equivocada de esquecer o fator humano e a necessidade de controle e humanizar estas tecnologias. No 4º ; O sentido do limite no paradigma tecnocrático, que é trabalhado na Laudato Si, se expõe claramente os perigos do utilitarismo e pragmatismo ao serviço do poder e do lucro.

No 5º; Temas quentes para a ética, se consideram os problemas da manipulação política, a discriminação, o desemprego, o controle e vigilância da cidadania cerceando direitos. No nº 6; uma pergunta : Transformaremos as espadas em relhas de arado, se focaliza o uso destas tecnologias nos sistemas de armas autônomos, o perigo do terrorismo e da violência, e a necessidade de avaliar e enquadrar os algoritmos numa algor ética.

No nº 7, Desafios para Educação, tratam-se os desafios de desenvolver a consciência crítica e o discernimento nos utentes e comunidades educativas. Finalmente no último ponto; Desafios para o desenvolvimento do Direito Internacional, se apela para as Organizações Internacionais para gerarem modelos normativos e a necessidade de um tratado Internacional vinculativo que ordene o uso correto e para o bem comum destas tecnologias. Que a revolução digital destes meios possa ser conduzido e orientado em prol das gerações futuras para um mundo solidário, justo e pacífico. Deus seja louvado!


Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)

Luzes de Natal

menino luzA verdadeira luz que brilha no Natal do Menino Jesus é a esperança. Todas as outras luzes se apagam, passadas as festas natalinas – enfeites das ruas e praças, casas e comércios. Há muitos brilhos que enchem os olhos, mas todos são ofuscados pela luminosidade da esperança que reveste o coração humano, fortalecendo-o, permanentemente, para enfrentar os muitos desafios. Os enfeites deste tempo se apagam, mas a luz luzente da esperança permanece. Fortes e inspiradoras são as imagens, com as suas simbologias, apresentadas pelo profeta Isaías. No capítulo 35 de seu Livro, o “profeta da esperança” anuncia alegria ao deserto e à terra seca, o júbilo à estepe para que floresça como o lírio. Augúrios para que a terra germine e exulte, cheia de alegria e louvor. Uma imagem exuberante da natureza para que se compreenda a dinâmica da esperança no coração humano, levando força às mãos abatidas, firmeza aos joelhos vacilantes, infundindo destemor aos medrosos, pela presença de Deus.

A presença de Deus é luz da esperança – força única que gera admiráveis transformações, conforme diz Isaías: “Os olhos dos cegos vão se abrir, e os ouvidos dos surdos se desobstruirão, saltará o aleijado como um cabrito, cantará a língua dos mudos, água jorrará no deserto, e rios, na terra seca, o chão ressequido se mudará em pântano, e a terra sedenta em mananciais de água”. O brilho luminoso da esperança reluz do coração de Deus que vem na terna fragilidade de um Menino. O Menino-Deus revela-se Mestre para ensinar seus discípulos a tarefa e o propósito de suas vidas. Assim, as luzes do Natal se efetivam na conduta de cada pessoa, chamada a ser luz do mundo. Na abertura do Sermão da Montanha, Jesus dirige-se a seus discípulos definindo-os como “luz”. Indica que a luz do seu Natal produz outras luzes duradouras. Brilhos que se acendem pelo zelo e compromisso de viver a partir de princípios e valores emanados de Cristo, a luz maior, cujo brilho e luminosidade não têm ocaso.

Há medo e desespero nos corações de muitos, dificultando o reconhecimento da luz da esperança. O crescimento da violência e do desrespeito atrapalha a necessária capacidade de esperançar. Uma incapacidade provocada também pelo viver sem dignidade: é preciso reconhecer que os avanços da contemporaneidade, especialmente no campo técnico-científico, contracenam com precárias condições de vida da grande maioria dos seres humanos. Diante dessa realidade, é oportuno retomar o itinerário desenhado pelo Papa Francisco na Exortação Apostólica “A alegria do Evangelho”. O Papa indica “estações” que, levadas a sério, acendem incandescentes luzes de Natal. Dentre as estações estão as que conduzem a humanidade a dizer “não” à economia da exclusão, à nova idolatria do dinheiro, a um dinheiro que governa em vez de servir, à desigualdade social que gera violência.

Esses “nãos”, expressados convictamente, permitem à sociedade enxergar a luz da esperança. O “não” à economia da exclusão se fundamenta no horizonte do mandamento “não matar”. É preciso, pois, atenção para evitar tudo que promove a economia da exclusão: o desperdício de alimentos ou o consumo além da necessidade, a competitividade perversa. Devem ser buscadas soluções para mudar a realidade de tantas pessoas sem trabalho e, consequentemente, sem horizonte para suas vidas. A exclusão alimenta a “cultura do descartável”, que traz consequências perversas para os recursos do planeta e, igualmente, para o ser humano – tantas pessoas deixam de ser consideradas pela sociedade. Apesar desses graves problemas que distanciam o ser humano da luz de Deus, convive-se com um anestesiar-se a partir da “cultura do bem-estar”. Trata-se de uma cultura alimentada pelo consumo, moldada pelo mercado que cultiva a idolatria ao dinheiro.

O Papa Francisco lembra que a atual crise financeira enfrentada em todo o mundo se enraíza em uma crise antropológica profunda: nega-se a primazia do ser humano. O dinheiro alcança o status de ditador, particularmente com o recurso impositivo do consumo. E consumir desmedidamente é privilégio dos que podem aumentar seus lucros e até manipular instituições governamentais – que deveriam proteger o povo da perversidade dos mercados e das especulações financeiras. A tirania do dinheiro cega e compromete o princípio da fraternidade universal – sinal da falta de ética e do distanciar-se de Deus. Apenas a ética e uma aceitação incondicional de Deus, o Deus-Menino que vem encontrar a humanidade, podem levar à sabedoria para vencer o domínio do dinheiro e do poder.

Somente Deus e a vivência de adequados parâmetros éticos são capazes de levar a civilização planetária a realizar-se plenamente, com uma ordem social mais humana. E uma corajosa reforma depende sempre de dirigentes políticos eticamente comprometidos a ajudar os pobres, respeitá-los e promovê-los. Deve-se reconhecer que a solidariedade é essencial para enfrentar a exclusão – fonte de violências. O Papa Francisco adverte que, quando a sociedade abandona, na periferia, parte de si mesma, não há programas políticos, nem forças da ordem ou serviços secretos que possam garantir, indefinidamente, a tranquilidade. Ensina o Papa: assim como o bem tende a difundir-se, também o mal consentido, a injustiça, tende a expandir-se, com a sua força nociva, e a minar, silenciosamente, as bases de qualquer sistema político e social.

A luz da esperança, a esperança fidedigna, é Cristo, que deve ser acolhido pela humanidade a partir de sua vinda. O Natal de Jesus é a semeadura da ética que tem força para transformar vidas a partir da lógica da fraternidade universal. Os augúrios são de que se deixe brilhar a luz de Cristo, com atitudes luminosas coerentes com o brilho do Natal.


Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)

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