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Voltar a Jesus

via-sacraSe falamos de volta a Jesus, significa que foi tomado um caminho contrário a Ele. Considerando a dimensão consciente da fé, na Pessoa do Senhor Jesus, a impressão que fica é de uma total perda ou esvaziamento da fé em Deus. Podemos visualizar toda essa realidade de fé no contexto do que está previsto nas celebrações, que acontecem, durante as cerimônias da Semana Santa.

Voltar a Jesus é encantar-se pela sua Pessoa, com o coração aberto, na trajetória do Mandamento do Amor, envolvendo não só a Pessoa de Jesus, mas também valorização do irmão na comunidade. Isto toma corpo no tempo da Páscoa, porque supõe passagem do desamor para o amor. E a consequência é o comprometimento, o envolvimento com os dados da vida e da amizade social.

O sepulcro onde sepultaram Jesus foi encontrado vazio, porque é uma realidade fechada, que dificulta a proximidade com a Pessoa de Cristo. Esse é um dos motivos porque Madalena e os dois discípulos foram surpreendidos. Jesus foi encontrado num espaço aberto, mais arejado, com possibilidade de convivência e vida de comunidade. A pessoa do irmão é espaço de volta para Jesus.

É saudável poder sonhar com as reais possibilidades de um mundo diferente, mais aberto, de mais fraternidade, convivência e prática do amor de irmãos, como expressão concreta de volta para o encontro com Jesus Cristo. O envolvimento com Ele, que significa encontro com Deus, transforma totalmente a vida das pessoas e provoca o surgimento da vida com mais objetividade.

O apóstolo Paulo refere-se a ressuscitar com Cristo e buscar as coisas do alto. A origem desta exigência está apoiada na primeira e fundamental marca na vida do cristão, no batismo, e tem como consequência a realidade da morte para o mundo das maldades, exigindo compromissos de seguimento do destino de Jesus. A cruz não fica descartada, porque ela é instrumento de volta.

Quem ama de verdade busca um caminho de luz, de vida digna e de total respeito pela pessoa do outro. Ele é capaz de conviver fraternalmente numa comunidade cristã. Também procura fazer acontecer a Igreja em saída, de anúncio dos princípios do bem contidos no Evangelho. Quem se identifica com Cristo é enviado em missão para proclamar a Boa Nova da Palavra e da Páscoa.


Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)

Fraternidade: da teoria à prática

cartaz-CF-2024

A Igreja Católica do Brasil, há 60 anos, vem celebrando a Campanha da Fraternidade durante o período quaresmal, em preparação à grande festa cristã, a Páscoa! A Quaresma, de fato, é o tempo favorável à retomada de nossa caminhada de discípulos missionários de Jesus, onde procuramos configurar nossas ações com as dele, seguindo seu exemplo e compreendendo a sua convocação de semear, no mundo, o amor, o perdão, a misericórdia, a comunhão, a fraternidade. Assim, vamos transformando as “trevas” em “luz”, passando da “morte” à “vida”, segundo o desejo e o projeto de Deus! Sabemos disso, mas temos consciência, também, que o grande desafio é passar do campo do conhecimento ou do discurso para uma ação concreta, real, prática.

O Texto-base da Campanha da Fraternidade deste ano, com o desafiante, necessário e belo tema: “Fraternidade e Amizade Social”, apresenta uma série de propostas de ação para que possamos ser, concretamente, mais fraternos e amigos. As propostas estão organizadas em três âmbitos, o pessoal, o eclesial ou comunitário e o social. Vejamos alguns destaques que poderão “iluminar” outros tantos, de acordo com os contextos de cada um.

No âmbito pessoal podemos transformar as “renúncias quaresmais” em “frutos”, oferecendo-os na Coleta Nacional da Solidariedade, realizada em todas as missas do Domingo de Ramos, que marca a conclusão da Quaresma e o início da Semana Santa. Metade dos recursos arrecadados ficam na própria diocese, para subsidiar projetos ligados à formação, evangelização e ação social, enquanto outra metade é encaminhada à organização nacional, justamente para subsidiar projetos sociais em todo o Brasil (cf. Fundo Nacional de Solidariedade). Devemos cuidar para que o mal que nasce em nós não cresça e se espalhe pelo mundo. E cultivar, por meio da oração e da prática da reconciliação, uma espiritualidade de comunhão, uma mística do encontro, da ternura, da misericórdia, aprendendo do Mestre Jesus uma forma mais acolhedora e compreensiva de lidar com as pessoas no dia a dia, ampliando a consciência sobre a dignidade integral de cada um, amando não somente a Deus, mas o que Ele mesmo ama e como Ele ama. Devemos, ainda, cuidar de nossa formação à diversidade, ao diferente e ao contraditório, uma formação à liberdade e ao respeito absoluto às pessoas, sem que um padrão seja criado e imposto a todos, indistintamente. Aprender e saber dialogar. Podemos, também, incentivar encontros interpessoais, reuniões de famílias e grupos de convivência, para que as pessoas experimentem e vivenciem o amor e o respeito mútuo, sendo um agente de reconciliação e paz.

No âmbito comunitário-eclesial podemos destacar uma possível ampliação de nosso agir para além de nossas Igrejas, associações ou instituições, unindo forças e favorecendo, por exemplo, os “centros de escuta” e o preparo de pessoas para ouvir o diferente, o bom uso das redes sociais, como espaços de partilha fraterna e amorosa, de crescimento, conhecimento e mútua cooperação. Podemos, também, em nossos bairros e condomínios, escolas e universidades, igrejas e instituições, preparar e celebrar, com ações e muita criatividade, o Dia Internacional da Amizade, em 20 de julho, abordando temas como a fraternidade universal, a amizade social, a solidariedade, a comunhão, o diálogo etc. Seria muito oportuno estabelecer e/ou fortalecer parcerias com o governo e a sociedade civil na educação e promoção dos Direitos Humanos para todos.

No âmbito social há sugestões no campo do voluntariado e serviço comunitário, na promoção da democracia e da paz, participando de organismos locais e nacionais de Direitos Humanos, buscando uma integração maior com todos os movimentos que tenham por objetivo a construção de um novo mundo. É importante conhecer e apoiar as instituições públicas de denúncia de crimes de ódio e intolerância, e promover aquelas que cuidam da cultura da paz por meio do esporte e lazer, da cultura e educação. Por fim, compreender, implementar e popularizar a prática da Justiça Restaurativa, ou seja, a busca da solução de conflitos por meio do diálogo e da negociação, com a participação ativa da vítima e do seu ofensor.

Três perguntas podem nos provocar em nossa reflexão sobre “teorias e práticas”: estamos dispostos a ir ao encontro dos vizinhos, mesmo aqueles que ainda não conhecemos? Sinto-me bem e motivado em celebrar a vida do outro, suas conquistas e vitórias? Conheço e participo de alguma instituição ou organização que se preocupa com o outro ou prefiro aquele velho e obsoleto dito popular: “cada um para si e Deus por todos”? A Campanha da Fraternidade deste ano traz uma excelente oportunidade para usarmos outro dito famoso, sempre atual: “um por todos, e todos por um”…


Dom Juarez Albino Destro
Bispo auxiliar de Porto Alegre (RS)

Centenário diocesano à luz da Palavra de Deus

Centenario-Diocesano-AmareAo meditar sobre as leituras escolhidas para a Missa em ação de graças pelo Centenário de nossa querida Diocese de Juiz de Fora, hoje Arquidiocese, Missa essa celebrada no domingo, 4 de fevereiro, sendo as duas primeiras do 5º Domingo do Tempo Comum e o evangelho próprio, pudemos escutar Deus a nos iluminar com sua Palavra nessa data festiva.

Na primeira leitura, do livro de Jó, aprendemos que a vida é efêmera e passageira, muitas vezes carregada de sofrimento e provações. “Meus dias correm mais rápido que a lançadeira do tear” (Jó 7, 6). Cem anos, embora pareçam um tempo largo, passam velozes, e muitos idosos hoje podem nos contar muito do correr desta história. O texto bíblico nos ajuda a perceber ainda que, nas festas, não devemos apenas recordar os momentos alegres e fáceis, mas também os sofrimentos vividos por nossos irmãos do passado, sejam eles leigos, leigas, sacerdotes, religiosos ou religiosas, e o povo em geral. Diz a Palavra no livro de Jó: ”Não é acaso uma luta a vida do homem sobre a terra?” (Jó, 1).

Por isso, levamos para nosso altar festivo, em primeiro lugar, a memória de todos os sofredores, todos os empobrecidos das 37 cidades que compõem o território diocesano. Quantos foram também os sofrimentos ocultos nesta estrada centenária?! À inspiração da pessoa de Jó, tudo colocamos no altar, suplicando perdão pelas falhas acontecidas nesta Igreja durante estes cem anos, mas também agradecendo tudo aquilo que nossos irmãos do passado puderam fazer por todos os necessitados de qualquer ordem.

É justo recordar os confrades e consócias vicentinos, a Associação do Pão de Santo Antônio, a Associação Social Arquidiocesana (ASA), o numeroso atendimento a indigentes da Santa Casa de Misericórdia, o Instituto Padre João Emílio, as obras sociais e caritativas das congregações religiosas e paroquiais, entre outras iniciativas em Juiz de Fora e nas cidades do interior da Arquidiocese.

A segunda leitura, da 1ª Carta de São Paulo aos Coríntios, traz-nos a alegria de contemplar tantos irmãos do passado que deram, graciosamente, suas vidas, seus dons, seus esforços para que o evangelho de Jesus fosse anunciado, pregado e vivido. Quantos padres, quantas religiosas, quantos leigos e leigas nestas dez décadas se desdobraram, sem nenhum interesse material, para que Cristo fosse mais conhecido e mais amado entre os habitantes destas 37 cidades! Também eles podem dizer como São Paulo: ”Para mim pregar o evangelho não é motivo de glória; é antes uma necessidade… Ai de mim se eu não evangelizar!” (I Cor 9, 16).

Sendo a Igreja uma organização que não visa lucros materiais, mas apenas vantagens humanitárias e espirituais, em busca da salvação eterna, a gratuidade é a marca inconfundível daqueles que a ela servem, 24 horas por dia, com toda a dedicação de seu coração, sem se preocupar com recursos pecuniários a não ser para seu mínimo sustento, a fim de que possam melhor trabalhar para Cristo. Também com Paulo podem ser recordados aqueles que viveram tal gratuidade, repetindo: “Em que consiste então o meu salário? Em pregar o evangelho, oferecendo-o de graça, sem usar dos direitos que o Evangelho me dá” (I Cor 9, 18). Os verdadeiros discípulos de Cristo, no passado, no presente ou no futuro terão sempre a alegria de dizer: “Por causa do evangelho eu faço tudo” (I Cor 9, 23).

Para celebrar os cem anos de nossa Igreja Diocesana, escolhemos um trecho do evangelho de São João, que traz não propriamente uma pregação, um discurso de Jesus, mas uma oração, pois queríamos, naquela hora, elevar os olhos e o coração para o alto, como fez o Divino Mestre, para louvar, agradecer, celebrar e pedir. Em união com o clero, e por sugestão da Comissão Celebrativa do Centenário, vimos que a melhor forma de celebrar esta expressiva data seria transformar todo este ano de 2024 em Ano Eucarístico Arquidiocesano, pois a Eucaristia é a grande ação de graças celebrada por Jesus. A Eucaristia é prece que nos eleva, é pão que nos alimenta, é vinho que nos tira a sede e nos fortalece no caminhar rumo ao céu. Imbuídos do espírito de unidade desejado por Cristo, viveremos este ano ao redor do Sacramento Eucarístico, unidos à Igreja inteira convocada pelo amado Papa Francisco, para celebrar o Ano da Oração, em preparação para o Jubileu de 2025.

Na verdade, o capítulo 17 de João é constituído da mais longa oração pronunciada por Cristo registrada na Sagrada Escritura. Trata-se de uma fervorosa prece que o Senhor faz na preparação imediata para sua paixão e morte, depois de se reunir com os apóstolos para a última ceia, quando lavou os pés aos discípulos, instituiu o santo Sacramento da Eucaristia e deu-lhes o mandamento do amor. É uma prece carregada de emoção, de caráter familiar, eminentemente eclesial, pois reza pelos discípulos de seu tempo e de todos mais que crerão nele no passar da história, quando disse: “Eu não rogo somente por eles, mas também por todos aqueles que vão crer em mim pela palavra deles” (Jo 17,20). Jesus reza pela Igreja nascente e pela futura, de todos os tempos. Por isso, nos vemos presentes nesta prece ao celebrar a nossa festa centenária.

Portanto, celebrar festas não é apenas olhar para trás. A festa nos alimenta, nos encoraja para prosseguir e progredir no caminho em direção ao Banquete da eternidade, na construção de um mundo cada vez mais humano, mais fraterno, mais pacífico, mais parecido com os planos de Deus. Animados pela Palavra de Jesus, tenhamos sempre o espírito sinodal que marca a Igreja desde seu início, e que agora volta com mais evidência, que não é outra coisa senão caminhar juntos, alegres e bem-dispostos rumo à casa do Pai, como cantamos em nosso hino Arquidiocesano que inauguramos: “Não haja entre nós divisões, formamos o Corpo de Cristo Jesus. A Igreja é fiel sacramento da comunidade que há na Trindade…”

Iniciemos, sob a luz e a força de Deus, a caminhada para o segundo centenário de nossa Igreja juiz-forana, ouvindo, dia a dia, a oração sacerdotal de Jesus: “Que todos sejam um, ó Pai, como eu e tu somos um… para que o mundo creia” (Jo 17,21).


Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

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