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Missão a Cumprir

ascencaoA palavra missão significa incumbência ou função específica conferida a alguém para realizar algo em determinada realidade, nos diversos setores da sociedade, inclusive na vida espiritual. Foi o que aconteceu com Jesus, enviado do Pai para uma tarefa excepcional, a salvação da humanidade, no âmbito da espiritualidade. Na Ascensão, ele volta às suas origens, àquele que o havia enviado.

A missão tem como fundamento qualificador, o testemunho. Ao se tratar da fé, é a autenticidade na condução dos propósitos a serem atingidos. Pode-se usar o ditado: “As palavras comovem, mas é o testemunho que convence”. Esse foi o caminho concreto traçado por Jesus Cristo na sua relação com as pessoas, motivando também seus seguidores na mesma missão de construir a dignidade da vida.

Na construção do mundo, a missão de um é sucedida pela do outro. Ao dizer aos discípulos, “ide…” (Mt 28,19), Jesus estava passando a tarefa da missão salvadora para outros. Assim acontece no transcorrer da vida de todas as pessoas. Há uma continuidade na missão, e ninguém pode se excluir dessa tarefa, deixando de dar a sua contribuição, mesmo sabendo ser uma ação ínfima.

Cumprir uma missão terrena é entregar-se a determinado projeto de construção de uma realidade do momento, como também do futuro. É trabalho de hoje com o olhar focalizado e projetado para o amanhã. Na Igreja chamamos isso de construção do Reino de Deus. A tarefa é de todos as pessoas, porque o mundo não está pronto, aliás, até muito destruído pela pouca atenção ao valor da natureza.

O mundo tem muitas trevas, está mergulhado em inúmeras situações de escuridão, nas maldades cotidianas e em vários desvios na sua finalidade. Realidades provocadas pelo próprio ser humano, justamente por aquele que deveria defendê-lo dos atos de destruição. Jesus fala do desafio da Boa Nova, de construir o bem e tudo aquilo que facilita e dá condições para que a vida humana seja saudável.

Nunca podemos permitir o total triunfo do mal, porque ele é destruidor, deve ser derrotado por aqueles que colocam em prática a missão de construir o bem. Jesus deu a vida pelo bem de todas as pessoas. Quer que tomemos consciência quanto ao dar continuidade ao que ele pretendia, construir a fraternidade universal, baseada na solidariedade, na justiça e no cuidado com os necessitados.


Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)

Voltar a Jesus

via-sacraSe falamos de volta a Jesus, significa que foi tomado um caminho contrário a Ele. Considerando a dimensão consciente da fé, na Pessoa do Senhor Jesus, a impressão que fica é de uma total perda ou esvaziamento da fé em Deus. Podemos visualizar toda essa realidade de fé no contexto do que está previsto nas celebrações, que acontecem, durante as cerimônias da Semana Santa.

Voltar a Jesus é encantar-se pela sua Pessoa, com o coração aberto, na trajetória do Mandamento do Amor, envolvendo não só a Pessoa de Jesus, mas também valorização do irmão na comunidade. Isto toma corpo no tempo da Páscoa, porque supõe passagem do desamor para o amor. E a consequência é o comprometimento, o envolvimento com os dados da vida e da amizade social.

O sepulcro onde sepultaram Jesus foi encontrado vazio, porque é uma realidade fechada, que dificulta a proximidade com a Pessoa de Cristo. Esse é um dos motivos porque Madalena e os dois discípulos foram surpreendidos. Jesus foi encontrado num espaço aberto, mais arejado, com possibilidade de convivência e vida de comunidade. A pessoa do irmão é espaço de volta para Jesus.

É saudável poder sonhar com as reais possibilidades de um mundo diferente, mais aberto, de mais fraternidade, convivência e prática do amor de irmãos, como expressão concreta de volta para o encontro com Jesus Cristo. O envolvimento com Ele, que significa encontro com Deus, transforma totalmente a vida das pessoas e provoca o surgimento da vida com mais objetividade.

O apóstolo Paulo refere-se a ressuscitar com Cristo e buscar as coisas do alto. A origem desta exigência está apoiada na primeira e fundamental marca na vida do cristão, no batismo, e tem como consequência a realidade da morte para o mundo das maldades, exigindo compromissos de seguimento do destino de Jesus. A cruz não fica descartada, porque ela é instrumento de volta.

Quem ama de verdade busca um caminho de luz, de vida digna e de total respeito pela pessoa do outro. Ele é capaz de conviver fraternalmente numa comunidade cristã. Também procura fazer acontecer a Igreja em saída, de anúncio dos princípios do bem contidos no Evangelho. Quem se identifica com Cristo é enviado em missão para proclamar a Boa Nova da Palavra e da Páscoa.


Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)

Fraternidade: da teoria à prática

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A Igreja Católica do Brasil, há 60 anos, vem celebrando a Campanha da Fraternidade durante o período quaresmal, em preparação à grande festa cristã, a Páscoa! A Quaresma, de fato, é o tempo favorável à retomada de nossa caminhada de discípulos missionários de Jesus, onde procuramos configurar nossas ações com as dele, seguindo seu exemplo e compreendendo a sua convocação de semear, no mundo, o amor, o perdão, a misericórdia, a comunhão, a fraternidade. Assim, vamos transformando as “trevas” em “luz”, passando da “morte” à “vida”, segundo o desejo e o projeto de Deus! Sabemos disso, mas temos consciência, também, que o grande desafio é passar do campo do conhecimento ou do discurso para uma ação concreta, real, prática.

O Texto-base da Campanha da Fraternidade deste ano, com o desafiante, necessário e belo tema: “Fraternidade e Amizade Social”, apresenta uma série de propostas de ação para que possamos ser, concretamente, mais fraternos e amigos. As propostas estão organizadas em três âmbitos, o pessoal, o eclesial ou comunitário e o social. Vejamos alguns destaques que poderão “iluminar” outros tantos, de acordo com os contextos de cada um.

No âmbito pessoal podemos transformar as “renúncias quaresmais” em “frutos”, oferecendo-os na Coleta Nacional da Solidariedade, realizada em todas as missas do Domingo de Ramos, que marca a conclusão da Quaresma e o início da Semana Santa. Metade dos recursos arrecadados ficam na própria diocese, para subsidiar projetos ligados à formação, evangelização e ação social, enquanto outra metade é encaminhada à organização nacional, justamente para subsidiar projetos sociais em todo o Brasil (cf. Fundo Nacional de Solidariedade). Devemos cuidar para que o mal que nasce em nós não cresça e se espalhe pelo mundo. E cultivar, por meio da oração e da prática da reconciliação, uma espiritualidade de comunhão, uma mística do encontro, da ternura, da misericórdia, aprendendo do Mestre Jesus uma forma mais acolhedora e compreensiva de lidar com as pessoas no dia a dia, ampliando a consciência sobre a dignidade integral de cada um, amando não somente a Deus, mas o que Ele mesmo ama e como Ele ama. Devemos, ainda, cuidar de nossa formação à diversidade, ao diferente e ao contraditório, uma formação à liberdade e ao respeito absoluto às pessoas, sem que um padrão seja criado e imposto a todos, indistintamente. Aprender e saber dialogar. Podemos, também, incentivar encontros interpessoais, reuniões de famílias e grupos de convivência, para que as pessoas experimentem e vivenciem o amor e o respeito mútuo, sendo um agente de reconciliação e paz.

No âmbito comunitário-eclesial podemos destacar uma possível ampliação de nosso agir para além de nossas Igrejas, associações ou instituições, unindo forças e favorecendo, por exemplo, os “centros de escuta” e o preparo de pessoas para ouvir o diferente, o bom uso das redes sociais, como espaços de partilha fraterna e amorosa, de crescimento, conhecimento e mútua cooperação. Podemos, também, em nossos bairros e condomínios, escolas e universidades, igrejas e instituições, preparar e celebrar, com ações e muita criatividade, o Dia Internacional da Amizade, em 20 de julho, abordando temas como a fraternidade universal, a amizade social, a solidariedade, a comunhão, o diálogo etc. Seria muito oportuno estabelecer e/ou fortalecer parcerias com o governo e a sociedade civil na educação e promoção dos Direitos Humanos para todos.

No âmbito social há sugestões no campo do voluntariado e serviço comunitário, na promoção da democracia e da paz, participando de organismos locais e nacionais de Direitos Humanos, buscando uma integração maior com todos os movimentos que tenham por objetivo a construção de um novo mundo. É importante conhecer e apoiar as instituições públicas de denúncia de crimes de ódio e intolerância, e promover aquelas que cuidam da cultura da paz por meio do esporte e lazer, da cultura e educação. Por fim, compreender, implementar e popularizar a prática da Justiça Restaurativa, ou seja, a busca da solução de conflitos por meio do diálogo e da negociação, com a participação ativa da vítima e do seu ofensor.

Três perguntas podem nos provocar em nossa reflexão sobre “teorias e práticas”: estamos dispostos a ir ao encontro dos vizinhos, mesmo aqueles que ainda não conhecemos? Sinto-me bem e motivado em celebrar a vida do outro, suas conquistas e vitórias? Conheço e participo de alguma instituição ou organização que se preocupa com o outro ou prefiro aquele velho e obsoleto dito popular: “cada um para si e Deus por todos”? A Campanha da Fraternidade deste ano traz uma excelente oportunidade para usarmos outro dito famoso, sempre atual: “um por todos, e todos por um”…


Dom Juarez Albino Destro
Bispo auxiliar de Porto Alegre (RS)

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