Sinodalidade
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- Terça, 17 Outubro 2023 17:13
Com origem na palavra sínodo, temos a sinodalidade. É um termo muito usado pelo Papa Francisco na condução da Igreja, para motivar o espírito de unidade do povo cristão. O desejo fundamental é de evidenciar a necessidade de todos caminharem juntos, com objetivos comuns na construção do Reino de Deus. E neste mês de outubro, está acontecendo o Sínodo, sobre sinodalidade, em Roma.
É interessante compreender que o Papa toca na essência do ensinamento de Jesus, revelada no capítulo 17 do Evangelho de João. Não é saudável uma Igreja sem unidade, mesmo tendo que enfrentar uma cultura da diversidade destoante. Entendemos o dinamismo que vem do Espírito Santo, mas não conseguimos compreender bem as atitudes daqueles que investem numa literatura de desunião.
Um Sínodo, com uma ampla representação das lideranças da Igreja, não é uma reunião qualquer, mas momento de escuta atenta do Espírito Santo, que inspira e conduz a Igreja para ser capaz de discernir a complexa forma de seu agir evangelizador no mundo. É espaço de reflexão para saber o que é de Deus e o que é do mundo, criado por Deus e governado pelos seres humanos.
O Papa Francisco, sob a luz da fé, tem muita sensibilidade em relação aos grandes, urgentes e preocupantes problemas do mundo. Ancorado nessa realidade, fala de não fechar portas, de ser evitado o legalismo, o clericalismo e o tradicionalismo. Para ele, o mais importante é construir pontes seguras, que ajudem a pessoa a ser feliz na própria trajetória humana e espiritual de vida.
Uma ala da Igreja se sente incomodada em relação à forma como o Papa tem tratado questões emergentes da cultura moderna. Não podemos descartar, que estamos em tempo de grandes desafios, de diversidade e ampla liberdade de manifestações. Por isto mesmo, é fundamental saber escutar a voz do Espírito de Deus e ter mente aberta para encontrar caminhos seguros hodiernos.
Na cena bíblica do “devolvei, pois, a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus” (Mt 22,21), podemos sentir a maldade ideológica dos opositores de Jesus, querendo colocá-lo à prova. Isto vem acontecendo, de forma incisiva e desonesta, com a pessoa do Papa Francisco, inclusive com o requinte até de considerá-lo como “papa falso”, jogando por terra a tradição e a ação do Espírito Santo.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)
Dom Eurico dos Santos Veloso: uma vida dedicada a evangelizar os povos
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- Terça, 10 Outubro 2023 16:23
A paz de Cristo esteja com todos nós. Com profunda tristeza e pesar, recebi a notícia da partida do nosso amado Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG), o Excelentíssimo e Reverendíssimo Dom Eurico dos Santos Veloso. Sua morte é uma perda imensa para nossa comunidade eclesiástica e para todos que tiveram a honra de conhecer sua devoção, sabedoria e liderança espiritual. Elevemos nossos corações em gratidão e oração em reconhecimento ao trabalho abençoado que nosso irmão realizou em vida. Testemunhei seu espírito catequista, sua dedicação incansável à formação espiritual daqueles que buscam compreender e viver a fé foi verdadeiramente inspirador.
Recordemos as palavras de São Paulo em 1 Coríntios 3,6-7: “Eu plantei, Apolo regou, mas Deus deu o crescimento. De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento.” Dom Eurico foi como um jardineiro fiel, plantando as sementes da fé nos corações daqueles que buscam a verdade.
Sua capacidade de compartilhar as verdades da fé de maneira cativante e acessível é um dom que toca vidas e ilumina mentes. Seu compromisso com a educação religiosa foi muito além de transmitir conhecimento — ajudou as pessoas a experimentar um encontro pessoal com Cristo.
A catequese é uma jornada de fé, e você desempenha um papel crucial ao guiar os outros em seu caminho espiritual. Seu serviço é um testemunho vivo do amor de Deus e do chamado para compartilhar Sua mensagem. Quem teve a honra de conhecê-lo, sabia que sua grande missão era evangelizar os povos, como a missão que Jesus nos instrui “ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observar todas as coisas que vos ordenei.” (Mt 28,19-20)
Seus artigos periódicos, publicados em vários meios de comunicação do país, eram esperados com grande expectativa por quem acompanhava suas palavras de sabedoria — um sinal do alcance de suas mensagens de orientação, testemunho e acolhimento.
Neste momento de luto e saudade, quero compartilhar palavras de conforto e esperança encontradas nas Sagradas Escrituras, fonte de consolo e luz em tempos difíceis.
Como bem nos diz o Senhor “Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados.” (Mt 5,4) Que encontremos consolo nas lágrimas que derramamos, sabendo que o Senhor está presente para nos consolar em nossa tristeza. Lembremos o Salmo (23,1), “O Senhor é o meu pastor; nada me faltará.” Nosso amado Arcebispo Dom Eurico dos Santos Veloso agora repousa nos pastos verdejantes preparados pelo próprio Senhor.
Ainda que nossos corações estejam pesados, confiamos na promessa das Escrituras Sagradas. “Aqueles que semeiam com lágrimas, com cantos de alegria colherão.” (Sl 126,5) Embora agora choremos sua partida, alegria e esperança virão com o tempo, à medida que lembrarmos das muitas bênçãos que a vida e seu ministério.
Dom Eurico dos Santos Veloso foi um farol de fé, amor e serviço à Igreja. Que o Senhor, em Sua infinita misericórdia, o acolha em Seus braços amorosos e o recompense por sua dedicação e serviço à Sua Igreja. Que sua memória seja uma fonte de inspiração contínua para todos nós, impulsionando-nos a viver uma vida de fé, amor e serviço, seguindo o exemplo que ele nos deixou.
Em oração e comunhão de fé,
Dom Vilson Dias de Oliveira
Bispo Emérito de Limeira (SP)
Vida em Primeiro Lugar
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- Sexta, 29 Setembro 2023 14:14
A vida em primeiro lugar é o inegociável e insubstituível princípio do Evangelho da vida, centro da mensagem de Jesus. Solenemente, o Mestre proclama: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”. Os que creem em Jesus Cristo, em diálogo e cooperação com os que defendem a vida desde a concepção até o declínio com a morte natural, se posicionam, sem concessões, contra o aborto. Não há espaço para ceifar vidas – um desatino criminal – ampliando legislações abortistas, sob a justificativa de que se busca solução para outros problemas graves. A correção de descompassos que sacrificam vidas humanas não pode significar a eliminação de outras vidas, dos nascituros, especialmente indefesos. Por isso mesmo, a Igreja Católica se opõe ao precedente que se busca abrir com a Arguição do Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442, em análise no Supremo Tribunal Federal. Esse precedente diz respeito à consideração da legalidade do aborto até 12ª semana de gestação. E a Igreja é contra a legalização do aborto.
Quem defende a legalização do aborto fundamenta-se em três princípios: o primeiro princípio refere-se à consideração que a vida uterina tem irrelevância jurídica. Essa premissa pode levar à legalização do aborto em outras fases da gestação, como ocorre em outros países. O segundo princípio relaciona-se à “proteção gradativa da vida”. Isto significa considerar que o ser humano, a depender do estágio de sua vida, se torna mais ou menos merecedor da proteção de seu direito de viver. Quem defende a legalização do aborto ainda se apega a uma terceira premissa: o direito constitucional ao aborto que, sublinhe-se, não existe na Constituição Federal do Brasil. Uma discussão tão séria, com consequência direta na promoção e defesa da vida, deve motivar a sociedade brasileira a questionar: por que não se aceita a participação de instituições representativas e de reconhecida autoridade moral e social, a exemplo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), nessa discussão que ocorre na Suprema Corte? Oportuno lembrar que o diálogo com diferentes segmentos é um dos pilares da sociedade democrática.
Ao invés do diálogo, o calendário proposto para a discussão do tema revela desrespeitos à democrática participação. Há de se considerar que um tema de graves repercussões, que está em confronto com o pensamento antiabortista da maioria da população brasileira, não pode se limitar a uma discussão restrita – respeitada a competência do Supremo Tribunal Federal (STF). Ao deliberar sobre o aborto, sem envolver ampla participação democrática, a Suprema Corte é chamada a responder: o STF considera o Congresso omisso e, por isso, ultrapassa a sua própria competência para legislar sobre o aborto? Oportuno lembrar que essa discussão, sem envolver o Parlamento, representa ferida na democracia, pois além de desconsiderar a participação da sociedade civil, também não contempla os representantes eleitos pela população. Trilhe-se adequadamente o caminho para tratar tema tão grave – não por uma ADPF, que parece ter mais força que grande parte da população brasileira e de procedimentos democráticos. Importante recordar que o Brasil é signatário de tratados internacionais em que se compromete a proteger a vida.
Aborto é a eliminação de uma vida humana. E ninguém tem o direito de escolher se uma pessoa deve ou não viver – todo ser humano é sagrado. Legalizar o aborto é uma imoralidade e, por isso mesmo, todos que são fiéis ao Evangelho da Vida devem se posicionar pela defesa de cada ser humano, especialmente dos nascituros e vulneráveis. A discussão no STF conduza a aprimoramentos de princípios democráticos, que demandam iluminação de parâmetros morais. Esses princípios contribuam para que representantes do povo brasileiro definam necessárias políticas públicas, pois é justamente a ausência dessas políticas que, equivocadamente, fundamenta o argumento de quem defende o crime do aborto. O rico horizonte do Evangelho da Vida precisa emoldurar o entendimento jurídico e sociopolítico da sociedade, para que todos reconheçam a dignidade incomparável de cada ser humano.
A vida humana, para além de suas dimensões terrenas, contempla a participação na vida de Deus. A sublimidade dessa vocação sobrenatural revela o valor e a grandeza do ser humano, que precisa ser respeitado em todas as etapas de sua existência. Por isso, a Igreja sabe e faz ecoar na interioridade de crentes e não crentes, pela luz da razão e por força da graça, o reconhecimento da Lei Natural que está inscrita no coração humano. Essa Lei Natural expressa o valor da vida de cada pessoa, desde a concepção até o declínio natural. Não se pode contemporizar e relativizar essa Lei Natural inscrita no coração, tornando urgente e massivo o anúncio do Evangelho da vida, para debelar todas as ameaças à existência humana – aborto, guerras, misérias, violências e discriminações. O panorama atual é inquietante e exige coragem profética, em uma movimentação forte e veloz, para reverter situações configuradas pelo mal. Nesta perspectiva, todos se unam para que o Brasil não se afaste do horizonte de sua Constituição Federal, não aprove o aborto, uma derrocada moral. É preciso discernir entre o bem e o mal pela luz do Evangelho da Vida, pela lição de colocar sempre a vida, dom sagrado, em primeiro lugar.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
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